DIVISÃO DE ENXAMES DE JATAÍ PARA CRIADORES INICIANTES NO VERÃO

Mulher fazendo a divisão de colônias de Jataí

A criação de abelhas nativas sem ferrão, como a jataí (Tetragonisca angustula), é uma atividade fascinante e acessível, especialmente para iniciantes. Além de ser um hobby gratificante, a meliponicultura contribui significativamente para a polinização de plantas nativas e a conservação da biodiversidade. Uma das práticas mais essenciais e recompensadoras nesse manejo é a divisão de enxames, que permite expandir seu meliponário de forma sustentável e fortalecer as populações dessas abelhas. O verão, com suas condições climáticas ideais e abundância de recursos florais, é a estação mais propícia para realizar essa tarefa vital.

Por Que Dividir Enxames de Jataí?


A divisão de enxames é uma técnica fundamental na meliponicultura, oferecendo múltiplos benefícios tanto para o criador quanto para as abelhas:

Expansão do meliponário: Permite aumentar o número de colônias de forma orgânica, sem a necessidade de adquirir novas abelhas, o que pode ser custoso e, em alguns casos, envolver riscos sanitários. É uma forma econômica e autônoma de crescimento.

Conservação das espécies: Ao multiplicar as colônias, o meliponicultor desempenha um papel ativo na preservação e no aumento das populações de abelhas nativas, que são cruciais para a saúde dos ecossistemas e a produção de alimentos.

Melhora da produtividade e saúde da colônia: Colônias fortes e bem manejadas tendem a ser mais produtivas em termos de mel, pólen e própolis. A divisão previne a superpopulação, que pode levar ao estresse da colônia, doenças e, em alguns casos, à enxameação natural descontrolada, onde a colônia se divide por conta própria, muitas vezes em locais inadequados ou com taxas de sucesso menores. Uma divisão planejada mantém a colônia mãe vigorosa.


Aprendizado e experiência: Proporciona ao criador iniciante um profundo entendimento sobre o comportamento, o ciclo de vida e as necessidades das abelhas. Cada divisão é uma oportunidade de observar de perto a organização social, a arquitetura dos ninhos e a dinâmica da colônia, aprimorando as habilidades de manejo.

Preparação Para a Divisão de Enxames

Antes de realizar a divisão, é crucial uma preparação cuidadosa para garantir o sucesso do processo e a saúde das colônias.

Escolha do momento certo

O verão é a estação ideal para a divisão de enxames de jataí devido a fatores ambientais que favorecem o desenvolvimento das novas colônias:

Abundância de flores: Garante uma vasta oferta de néctar e pólen, essenciais para a nutrição e o rápido desenvolvimento das novas colônias, que precisam de alimento para construir seus ninhos e alimentar a cria.

Temperaturas amenas e estáveis: Temperaturas entre 25°C e 30°C são ideais. Elas favorecem o metabolismo das abelhas, o desenvolvimento da cria e reduzem o estresse térmico, tanto para a colônia mãe quanto para a nova colônia. Evite dias com grandes variações de temperatura.

Maior atividade das abelhas: A alta atividade de voo e forrageamento das abelhas no verão facilita a adaptação das colônias divididas e a busca por novos recursos.

Avaliação da colônia mãe

A saúde e a força da colônia mãe são determinantes para o sucesso da divisão. Certifique-se de que a colônia está em ótimas condições:

Número de discos de cria: A colônia deve ter pelo menos 8-10 discos de cria bem formados e ativos. Eles são as estruturas onde a rainha deposita os ovos e as larvas se desenvolvem. Uma boa quantidade indica uma rainha produtiva e uma colônia em crescimento. Observe a presença de cria operculada (mais escura e pronta para emergir) e cria aberta (larvas e ovos).

População de abelhas: A colônia deve ser densa, com muitas abelhas operárias cobrindo os discos de cria e as áreas de alimento. Uma alta densidade populacional garante que haverá abelhas suficientes para cuidar da nova cria e forragear.

Reserva de alimento: Verifique a presença abundante de potes de mel e pólen. Estas reservas são cruciais para sustentar a colônia mãe após a divisão e para fornecer alimento inicial à nova colônia, especialmente nos primeiros dias, quando ainda não há forrageamento estabelecido.

Saúde geral: A colônia deve estar livre de pragas (como forídeos ou formigas) e doenças. Nunca divida uma colônia fraca, estressada ou doente, pois isso pode comprometer a sobrevivência de ambas as partes.

Materiais necessários

Prepare todos os materiais e ferramentas antes de iniciar o processo para evitar interrupções e minimizar o estresse das abelhas:

Caixa nova: Do mesmo modelo da colônia mãe (e.g., modelo INPA, vertical, horizontal), limpa e devidamente preparada. A caixa deve ser feita de madeira de boa qualidade, com espessura adequada (2-3 cm) para isolamento térmico e com ventilação e entrada apropriadas.

Ferramentas de manejo:
Espátula ou cutelo fino: Para separar as partes da caixa mãe e cortar os discos de cria com precisão, sem danificá-los.
Pinça de ponta fina: Para manusear delicadamente os discos de cria e, se necessário, transferir abelhas individualmente.
Aplicador: Útil para coletar e transferir pequenas quantidades de mel ou própolis, ou para fornecer alimento líquido.
Pincel de cerdas macias ou pena: Para varrer gentilmente as abelhas dos discos de cria ou outras superfícies para a nova caixa.

Equipamento de proteção: Embora as jataís não possuam espículo funcional, elas podem morder e liberar própolis, que pode causar reações alérgicas em algumas pessoas. Use luvas finas e, se for sensível, uma máscara ou óculos de proteção para evitar contato com a própolis.

Alimentador: Um alimentador interno ou externo limpo, pronto para fornecer alimento suplementar (xarope de açúcar) à nova colônia nos primeiros dias.

Passo a passo da Divisão de Enxames

Realizar a divisão de enxames requer atenção, paciência e movimentos cuidadosos para minimizar o estresse das abelhas e garantir o sucesso.

Escolha do local para a nova colônia

Selecione um local adequado para a nova colônia, que oferecerá as melhores condições para seu desenvolvimento:

Protegido do sol direto: Evite a exposição direta ao sol, especialmente nas horas mais quentes do dia, para prevenir o superaquecimento da caixa. Uma sombra parcial ou total é ideal.

Ventilação adequada: O local deve ter boa circulação de ar, mas sem correntes de vento fortes que possam resfriar excessivamente a colônia.

Distância da colônia mãe: Posicione a nova caixa a pelo menos 2 a 3 metros de distância da colônia mãe. Isso é crucial para evitar a “deriva”, onde as abelhas forrageiras retornam ao local original da colônia mãe, confundindo-se e sobrecarregando-a, enquanto a nova colônia fica com poucas forrageiras. A entrada da nova caixa pode ser orientada para leste ou nordeste para receber o sol da manhã.

Preparação da caixa nova

Prepare a nova caixa antes de iniciar a transferência, garantindo que ela seja um ambiente acolhedor e seguro para as abelhas:

Limpeza e sanitização: Certifique-se de que a caixa está limpa e livre de resíduos, poeira ou cheiros fortes. Use apenas água ou uma solução de álcool 70% para limpeza.

Instalação de cerume ou cera: Coloque pequenas tiras de cerume (uma mistura de cera e própolis produzida pelas abelhas) ou cera de abelha nos suportes internos da caixa. Isso servirá como um ponto de ancoragem e uma base inicial para as abelhas construírem seus novos discos de cria e potes de alimento. Se possível, use um pequeno pedaço de cerume da própria colônia mãe para familiarizar as abelhas com o cheiro.

Alimentador instalado: Posicione o alimentador limpo e pronto para uso imediato. Mesmo que a colônia mãe tenha boas reservas, a nova colônia precisará de alimento suplementar nos primeiros dias para se estabelecer.

Transferência dos discos de cria

A transferência dos discos de cria é o ponto central da divisão, pois eles contêm a futura geração da colônia:

Abertura cuidadosa da colônia mãe: Abra a caixa mãe com movimentos lentos e suaves para minimizar o estresse das abelhas. Evite chacoalhar a caixa. As abelhas podem liberar um odor de alarme se forem perturbadas bruscamente.

Identificação e seleção dos discos de cria: Escolha de 3 a 5 discos de cria saudáveis e bem formados, preferencialmente com cria operculada, que está prestes a emergir. A cria operculada é mais resistente ao transporte e requer menos cuidado imediato das abelhas transferidas. Se houver células reais maduras, transfira uma ou duas para a nova colônia, pois elas contêm futuras rainhas.

Uso da espátula: Com a espátula ou cutelo fino, solte e corte os discos de cria da colônia mãe com precisão, evitando danificar a estrutura delicada. Tenha cuidado para não esmagar abelhas ou larvas.

Posicionamento na nova caixa: Acomode os discos de cria na nova caixa de forma estável, fixando-os no cerume ou cera previamente instalada. Eles devem ficar firmes para não caírem.

Transferência de abelhas operárias

As abelhas operárias são essenciais para o sucesso da nova colônia, pois são elas que cuidarão dos discos de cria, forragearão e construirão o ninho:

Coleta de abelhas: Use um pincel macio, uma pena ou a pinça para transferir gentilmente algumas abelhas operárias para a nova caixa, diretamente sobre os discos de cria. Evite esmagá-las.

Quantidade adequada: Transfira cerca de 200-300 abelhas operárias. Esta quantidade é suficiente para iniciar o trabalho na nova colônia sem enfraquecer excessivamente a colônia mãe. A maioria das abelhas transferidas serão abelhas jovens, que ainda não têm um local de forrageamento fixo.

Fechamento da caixa: Após a transferência dos discos de cria e das abelhas, feche a nova caixa cuidadosamente, garantindo que todas as partes estejam bem encaixadas para evitar a entrada de predadores ou o roubo de alimento por outras abelhas.

Monitoramento e cuidados pós-divisão

Após a divisão, o monitoramento contínuo é crucial para garantir o estabelecimento bem-sucedido da nova colônia:

Observação diária: Nos primeiros dias, observe a atividade na entrada da nova colônia. Procure por abelhas forrageiras entrando e saindo, abelhas guardiãs na entrada e o início da construção de cerume ou potes de alimento. A ausência de atividade pode indicar problemas.

Alimentação suplementar: Ofereça xarope de açúcar (proporção 1:1 de açúcar refinado para água filtrada, aquecido até dissolver e resfriado) no alimentador. Isso é vital nos primeiros 15-30 dias, especialmente se a oferta de néctar na natureza for baixa. Se o pólen natural for escasso, considere oferecer um substituto de pólen.

Proteção contra invasores: Mantenha a área ao redor da caixa limpa e protegida contra predadores como formigas (use vaselina ou óleo nas pernas do suporte da caixa), aranhas e moscas-da-forídeo (phorid flies). Certifique-se de que a caixa esteja bem vedada para evitar a entrada de invasores.

Benefícios da Divisão no Verão

Benefícios:

Desenvolvimento rápido: As altas temperaturas e a disponibilidade de alimento no verão estimulam o rápido desenvolvimento da cria e o crescimento da nova colônia, permitindo que ela se estabeleça mais rapidamente.

Maior disponibilidade de recursos: O verão é a estação de maior floração na maioria das regiões, garantindo uma fonte abundante e diversificada de néctar, pólen e resinas (para própolis e cerume), essenciais para a construção e manutenção do ninho.

Temperaturas favoráveis: As abelhas gastam menos energia na termorregulação da colônia, direcionando mais recursos para o crescimento e a produção.

Conclusão

A divisão de enxames de jataí no verão é uma prática enriquecedora que oferece aos criadores iniciantes a oportunidade de expandir seus meliponários de forma sustentável e aprofundar seu conhecimento sobre essas incríveis abelhas nativas. Com preparação cuidadosa, atenção aos detalhes e um manejo gentil, é possível realizar divisões bem-sucedidas que não só fortalecem o meliponicultor e seu hobby, mas também contribuem significativamente para a conservação e o aumento das populações de abelhas nativas.

Se você está começando nesta jornada fascinante, aproveite o verão para experimentar a divisão de enxames. É uma experiência que não só enriquece seu meliponário, mas também sua conexão com a natureza e o maravilhoso mundo das abelhas nativas.

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