NUTRIÇÃO ARTIFICIAL  PARA ABELHAS MIRIM DURANTE PERÍODOS DE ESTIAGEM PROLONGADA

Colmeia de abelhas mirim vista por dentro mostrando dipositivo para nutrição artificial

Durante os cinco anos dedicados à criação dessas pequenas e fascinantes abelhas nativas, percebi que o maior desafio surge nos períodos de estiagem prolongada, quando as flores se tornam escassas e as colônias enfrentam dificuldades para encontrar alimento.

A nutrição artificial surge, então, como uma prática essencial para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento saudável das colônias de abelhas mirim durante essas épocas críticas.

Neste artigo, compartilharei minhas experiências e conhecimentos acumulados sobre como preparar, oferecer e monitorar alimentos artificiais para abelhas mirim, permitindo que suas colônias permaneçam fortes mesmo nos períodos mais secos do ano.

O Impacto da Estiagem nas Colônias de Abelhas Mirim

As abelhas mirim, assim como outras abelhas sem ferrão, dependem exclusivamente do néctar e do pólen coletados nas flores para sua alimentação. O néctar fornece energia através dos açúcares, enquanto o pólen oferece proteínas, vitaminas e minerais essenciais para o desenvolvimento das crias e a manutenção da colônia. Durante períodos de estiagem prolongada, a disponibilidade desses recursos naturais diminui drasticamente, afetando diretamente o desenvolvimento e a sobrevivência da colônia.

Na natureza, as abelhas mirim desenvolveram estratégias para lidar com períodos de escassez, como o armazenamento de mel e pólen em potes específicos. No entanto, em ambientes urbanos ou em situações de estiagem prolongada, essas reservas podem não ser suficientes, tornando necessária a intervenção do meliponicultor através da alimentação artificial.

Observei em minhas colônias que, sem a alimentação suplementar adequada durante a estiagem, ocorre uma redução significativa na postura da rainha, diminuição da população de operárias e, em casos extremos, abandono da colônia ou morte da colmeia inteira. Esse fenômeno é particularmente preocupante em regiões onde as mudanças climáticas têm intensificado os períodos de seca.

Quando Oferecer Nutrição Artificial para Abelhas Mirim

A decisão de fornecer nutrientes artificiais para abelhas mirim deve ser baseada na observação criteriosa das colônias e das condições ambientais. De acordo com minha experiência e conforme respaldado pelos materiais de referência, os momentos ideais para oferecer alimentação extra são:

  • Durante períodos de estiagem prolongada, quando há notável escassez de flores na região.
    Em inverno rigoroso, principalmente em regiões do Sul e Sudeste do Brasil, onde a floração diminui significativamente.

  • Após eventos de chuva prolongada, que impedem as abelhas de saírem para forragear.

  • Para fortalecer colônias recém-divididas, que precisam de um aporte extra de energia para reconstruir suas estruturas.

  • Para estimular o crescimento populacional antes do início das grandes floradas, preparando a colônia para a produção de mel.

A frequência da alimentação pode variar de acordo com a necessidade da colônia e com a intensidade da escassez. Como regra geral, tenho oferecido nutrição energética 1 a 2 vezes por semana durante os períodos críticos, sempre observando o consumo e ajustando conforme necessário. O importante é nunca deixar a refeição fermentar dentro da colmeia, o que poderia causar problemas de saúde para as abelhas.

Tipos de Nutrição Artificial para Abelhas Mirim

A nutrição artificial para abelhas mirim pode ser classificada em dois tipos principais: energética e proteica. Cada uma delas tem funções específicas e deve ser utilizada de acordo com as necessidades da colônia.

Nutrição Energética

A nutrição energética visa substituir o néctar e o mel, fornecendo carboidratos que são a principal fonte de energia para as abelhas. O xarope de açúcar é a forma mais comum e eficaz de alimentação energética. Baseado em minhas experiências e nas recomendações técnicas, a fórmula mais adequada para abelhas mirim é:

Xarope simples (proporção 1:1):

1 parte de açúcar cristal ou refinado
1 parte de água filtrada

Para preparar:

Ferva a água para garantir a eliminação de possíveis contaminantes.
Adicione o açúcar e mexa até dissolver completamente.
Deixe esfriar até atingir a temperatura ambiente antes de oferecer às abelhas.

Para colônias mais fracas ou em situações de extrema escassez, tenho utilizado com sucesso um xarope um pouco mais concentrado, na proporção 1,5:1 (açúcar:água), que fornece mais energia e estimula melhor a colônia.

É importante ressaltar que o açúcar utilizado deve ser preferencialmente o cristal ou refinado, evitando-se o açúcar mascavo ou demerara, que contêm impurezas que podem causar problemas digestivos nas abelhas. Também nunca devemos utilizar mel de Apis mellifera (abelha europeia) para alimentar abelhas nativas, devido ao risco de transmissão de enfermidade.

Nutrição Proteica

Embora a nutrição energética seja a mais comum, em períodos muito longos de escassez pode ser necessário oferecer também substitutos de pólen, que fornecem as proteínas essenciais para o desenvolvimento das crias. Após testar várias formulações, desenvolvi uma combinação que tem funcionado bem para minhas colônias de mirim:

Pasta proteica:

2 partes de pólen de abelhas (preferencialmente de abelhas nativas)
1 parte de levedura de cerveja (fonte de proteínas e vitaminas do complexo B)
1 parte de xarope concentrado (2:1 açúcar:água) para dar consistência

Para preparar:

Misture o pólen e a levedura de cerveja em um recipiente limpo.
Adicione o xarope aos poucos, misturando até obter uma pasta maleável.
Envolva pequenas porções (do tamanho de uma bolinha de gude) em filme plástico.
Congele as porções que não serão utilizadas imediatamente.

A pasta proteica deve ser oferecida com mais moderação que o xarope, geralmente uma vez por semana ou a cada duas semanas, dependendo da necessidade da colônia.

Métodos de Fornecimento da Nutrição Artificial

O método de fornecimento da nutrição artificial é tão importante quanto a sua composição. Para abelhas mirim, que são pequenas e possuem colônias menos populosas, a quantidade e o posicionamento do alimento devem ser adequados para evitar problemas como o afogamento de abelhas ou invasão de formigas e outros invasores.

Nutricionadores Internos

Os recipientes internos são colocados dentro da colmeia, próximos aos potes de suprimento natural. Para colônias de abelhas mirim, tenho utilizado com sucesso:

Alimentador de aplicador: Uma aplicador de 10 ml, com a ponta ligeiramente alargada, colocada na horizontal dentro da melgueira. Este método funciona muito bem para o xarope e evita o afogamento das abelhas.

Alimentador de tubo de ensaio: Similar ao do aplicador, utilizando um tubo de ensaio pequeno com algodão na ponta para controlar o fluxo do xarope.

Mini-bandejas para pasta proteica: Pequenas tampas de medicamentos ou tampinhas de garrafa PET, onde coloco pequenas quantidades de pasta proteica diretamente.

Nutricionadores Externos

Em algumas situações, pode ser conveniente utilizar recipientes externos, colocados na parte de fora da colmeia, conectados através de um pequeno orifício:

Nuricionador tipo Boardman adaptado: Uma versão miniaturizada do recipiente Boardman, utilizando um frasco pequeno invertido que libera o xarope gradualmente em uma pequena calha acessível às abelhas.

Nutricionador coletivo: Em meliponários com várias colônias de mirim, às vezes utilizo um recipiente coletivo posicionado estrategicamente no meliponário, contendo xarope mais diluído (proporção 1:2 açúcar:água) para simular néctar natural.

A principal vantagem dos nutricionadores internos é a redução do risco de pilhagem por abelhas de outras colônias ou atrair predadores. Por outro lado, os externos facilitam o monitoramento do consumo sem necessidade de abrir a colmeia.

Cuidados Essenciais na Nutrição Artificial

Durante os anos de prática com nutrição artificial para abelhas mirim, aprendi que alguns cuidados são essenciais para o sucesso desta atividade:

Higiene impecável: Todos os utensílios utilizados no preparo e fornecimento da nutrição devem estar perfeitamente limpos para evitar contaminações.

Quantidade adequada: Sempre ofereço pequenas quantidades de cada vez (5-10 ml de xarope para uma colônia de mirim) e só reponho quando for totalmente consumido.

Evitar fermentação: Removo imediatamente qualquer refeição não consumido em 2-3 dias para evitar fermentação dentro da colmeia.

Prevenir invasores: Instalo barreiras anti-formigas (como minhas próprias criações de “ilhas” com água) para evitar que formigas sejam atraídas pela refeição.

Monitoramento constante: Durante o período de nutrição artificial, intensifico as observações das colônias para detectar qualquer sinal de problema.

Registro detalhado: Mantenho um diário do meliponário onde anoto quando, quanto e qual tipo de refeição foi oferecida a cada colônia, além das reações observadas.

Sinais de Que a Nutrição Artificial Está Dando Resultados

Quando a nutrição artificial é bem-sucedida, diversos sinais positivos podem ser observados na colônia de abelhas mirim:

  • Aumento na atividade de postura da rainha, evidenciado pelo crescimento do disco de cria.

  • Maior movimentação de abelhas dentro e fora da colônia, demonstrando vigor.

  • Construção de novas células de cria e potes de armazenamento.

  • Melhoria na defesa da colônia, com guardiãs mais ativas na entrada.

  • Retomada da construção de batume e própolis dentro da caixa.

  • Diferença visível na população da colônia após algumas semanas de nutrição consistente.

Considerações Finais

A nutrição artificial para abelhas mirim durante períodos de estiagem prolongada não é apenas uma técnica de manejo, mas um compromisso com o bem-estar desses importantes polinizadores. Através da observação atenta e do fornecimento criterioso de refeições extras, podemos ajudar nossas colônias a atravessarem os períodos difíceis, mantendo-as fortes.

Em minha trajetória como meliponicultor, aprendi que cada espécie e cada colônia tem suas particularidades, e que a nutrição artificial deve ser adaptada a essas necessidades específicas. As abelhas mirim, por seu tamanho reduzido e características próprias, respondem especialmente bem a uma abordagem cuidadosa e personalizada.

Convido você a experimentar as técnicas aqui compartilhadas, adaptando-as à sua realidade e às necessidades de suas abelhas. A meliponicultura é uma atividade em constante aprendizado, onde cada colônia nos ensina algo novo a cada dia. Observar uma colônia de mirim recuperar seu vigor após um período de nutrição artificial durante a estiagem é uma das experiências mais gratificantes para quem se dedica à criação dessas fascinantes abelhas nativas.

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